24 de jul. de 2010

on the radio

No, this is how it works
You peer inside yourself
You take the things you like
And try to love the things you took
And then you take that love you made
And stick it into some
Someone else's heart
Pumping someone else's blood
And walking arm in arm
You hope it don't get harmed
But even if it does
You'll just do it all again

(Regina Spektor)

Não, é assim que funciona:
Você procura dentro de você
Você pega as coisas de que gosta
E tenta amar as coisas que pegou
E então você pega todo esse amor que você fez
E crava em alguém
No coração de outro alguém
Bombeando o sangue de outro alguém.
E andando de braços dados
Você espera que ele não se machuque,
Mas mesmo se isso acontecer
Você simplesmente vai fazer tudo de novo.

4 de jul. de 2010

Quem é que disse que essa história é sobre um livro?

Ela tinha certeza que o livro estava naquela gaveta, mas procurou, procurou e nada. Talvez ela o tenha emprestado.
É melhor esperar, alguém vai devolver!
Só que ninguém devolve e ela volta buscá-lo na gaveta, aquela gaveta enorme, cheia de coisas importantes, documentos e até algum dinheiro, para uma necessidade. Mas ele ainda não está lá.
Então é hora de ir atrás, de perguntar para algumas pessoas se elas estão com o livro. Mas cobrar o livro de quem? Como?
Será que eles não podiam devolver pelo menos os últimos capítulos? Eles podiam ficar com o começo, já que ela sabe todas as frases.
Mas não, nenhum capítulo volta a ser dela!
- Ele era mesmo seu? Tem certeza que já o leu, que o viu na sua gaveta? A primeira gaveta da esquerda?!?
Sim! Ela já o viu na gaveta, afinal, foi a partir dali que o sorriso dela mudou.
Das crônicas, era só o que ela falava. Ele era a sua poesia. Sabia do índice como ninguém.
O problema foi que ela demorou para terminar, ela gostava tanto do primeiro capítulo, que lia e relia, e não chegava logo no fim.
Hesitou tanto em saber como era o desfecho, que se ausentou por um tempo, e quando foi buscá-lo na gaveta, não o encontrou mais.
Nas férias tentou substituí-lo por outro. Ele tinha um título parecido, a capa era um pouco mais velha - um romance - daqueles com final previsível, logo desistiu, ela não gosta do previsível.
Estava decidido - desta vez ela não hesitaria, não ia perder o seu livro favorito assim à toa, ela precisava encontrá-lo, ou alguém precisava devolvê-lo.
Enquanto isso não acontecia, ela tentou outros 03 títulos: comédia, drama e um de contos, sem sucesso claro!
Por fim, numa noite vazia andando por aí ela o achou, era uma segunda edição das crônicas, ali num sebo, perdido entre tantos outros na vitrine.
A princípio olhou e rejeitou (mesmo com a teoria que não hesitaria), não queria aquele do sebo, mas ele estava lá, disponível, tão barato, resolveu então que o levaria.
Agora ela iria lê-lo por inteiro, não enrolaria se quer no índice, nada de guardar na gaveta, de reler uma página, dar importância com o fato de tê-lo comprado no sebo, mesmo que faltasse aquele cheirinho de novo e as páginas unidas.
Não importava quem o já tinha lido, ela sabia que não iria tirá-lo da bolsa.
Na volta pra casa ela desligou o celular, não queria que a perturbassem, ligou no trabalho e disse que não voltaria para a reunião, tinha acontecido um imprevisto. Ela nunca deixara de participar de uma reunião por motivos pessoais, afinal o trabalho estava em primeiro lugar, mas naquele dia não! Ela tinha encontrado o que buscava por dois anos.
No caminho de casa parou no semáforo, escutava um blues no som do carro. Os vidros estavam fechados, o inverno da capital apontava 15 graus no relógio de rua.
Mas não importava o frio da rua, o semáforo fechado, o trânsito, ou mesmo qualquer coisa que poderia aparecer. Ela tinha a segunda edição na sua bolsa.
Em um piscar de olhos, enquanto abria e fechava o farol e os carros permaneciam inertes na avenida. Um motoqueiro parou do lado do carro dela, ele não pediu para ela abaixar o vidro, nem pra ela descer, tampouco teve o trabalho de lhe pedir a carteira, num golpe, ele quebrou o vidro traseiro de seu carro e pegou sua bolsa, que lá estava no chão.
Ainda no mesmo piscar de olhos, ele levou a bolsa sumindo no mar de carros. Ela atônita, não sabia o que fazer, não conseguia pensar em outra coisa senão no livro.
Ela esperara tanto para encontrá-lo, e ele que não iria fazer uso do livro, o levou, só porque queria a bolsa, para pegar a carteira, e da carteira o dinheiro.
Não tinha cartões de crédito, o celular era tão velho, que não valia nem o sangue que ficou nos resquícios do vidro que caíra no banco do carro.

Ele levou por querer, por egoísmo, por oportunidade. Roubou o que ela amava.
O que ela tentou o tempo todo amar, só para substituir aquela primeira edição, que foi o mais lindo livro, que ela nunca leu até o fim.

Quando te roubam o amor, o vazio e a brutalidade são semelhantes!