11 de mai. de 2011

Repetir

Repetir um post é como repetir um dia.
Hoje só da para repetir:

Onde os anjos não ousam pisar!

Aqui, ali e aí!
Entre guerra de egos, melindres, mentiras e histórias infundadas!
Eu sigo em passos leves, artificialmente em harmonia.

19 de abr. de 2011

Quando a música é instrumental [ou pura metáfora]

Não tente ser uma música de alguém. Não escolha uma música pra ser trilha de um flerte, namoro ou um simples passar de uma noite.
Não adianta escolher seu cantor favorito pra dizer que tem tudo a ver com a situação, com o momento, tampouco com a beleza dela.
As pessoas tem uma necessidade de escolher canções que combinem, que citem um lugar, uma estação do ano, que fale sobre ela ou ele. Uma canção que diz tudo o que você não conseguiria criar, ou mesmo dizer em anos de tentativas.
Essa sua escolha solitária e autoritária estraga tudo, ilude, inventa, cria um personagem de videoclipe imaginário. Ele ou ela será sempre o protagonista deste vídeo, que por sinal não sai da sua cabeça. Pois é, só da sua, porque da outra pessoa, essa música não é nada.
Não que homens e mulheres não criem uma trilha sonora para os amores diários, os platônicos, os eternos, os que duram até ele dizer o filme favorito, e completar a frase questionando quem é Quentin Tarantino.
O problema de querer ser (escolher) uma música e declarar isso, é que nem todos tem esse potencial. Pra ser ‘música’ (a arte das musas) o ser humano precisa ter o dom do som e do silêncio, ele precisa ser o ritmo e a melodia. Mas nem todas as pessoas são capazes de entender que não possuem harmonia, mesmo que você grite. Elas acreditam que ainda tocam no seu playlist.
O mais interessante dessa relação: música - relações humanas, é quando você descobre depois de muito tempo, (claro, afinal não é todo dia que nasce um Beethoven) uma pessoa capaz de ser não só uma música, ela é uma trilha sonora inteira. Ela não é um videoclipe imaginário. Ela é um documentário-drama-comédia-animação-ficção, tudo numa coisa só.
Percepção explica tudo. Não se escolhe uma música, ela surge.
Você já escutou de alguém algo como: “vou escolher a nossa música!”. Já apareceu um alguém que te perguntou: “qual o seu cantor favorito? Posso tocar pra você!”.
Esquece. A música em si é um fenômeno natural e universal. Pensando nisso, ‘por ser um fenômeno natural e intuitivo, os seres humanos podem executar e ouvir a música virtualmente em suas mentes sem mesmo aprendê-la ou compreendê-la’.
É por isso que aquele mimimi em francês “Et le bruit du passé se tait tout simplement” [E o barulho do passado simplesmente se cala], idioma do qual você não entende mais do que sete palavras, fazia o maior sentido em algum momento da sua vida.
E é por isso que em um determinado momento você vai descobrir outra coisa, essa pessoa não é só uma trilha sonora, ela é um gênero inteiro, qualquer música que você ouça, que tenha a mesma maneira particular de pronunciar alguns palavras, será ela.
Você pode ler e reler um e-mail, com a mesma capacidade intuitiva de executar e ouvir uma música virtualmente em sua mente. Um e-mail, por exemplo, vira sua partitura, na qual você consegue imaginar exatamente onde essa pessoa parou, fez aquela cara “calma, tô processando a sua pergunta”, entendeu seu questionando e respondeu. Escreveu por 30 segundos, parou, passou a mão no queixo e respondeu o resto.

Você é capaz de ler com o jeito dela/dele de falar? Você consegue fazer essa interpretação ilusória só para te transportar para perto?

Antropologia musical = tende a provar que, mesmo se alguém tem um certo prazer ao ouvir uma determinada obra, não pode vivê-la da mesma forma que os membros das etnias aos quais elas se destinam.

16 de nov. de 2010

Compartilhe o conhecimento gerado.





#Metareciclagem

24 de jul. de 2010

on the radio

No, this is how it works
You peer inside yourself
You take the things you like
And try to love the things you took
And then you take that love you made
And stick it into some
Someone else's heart
Pumping someone else's blood
And walking arm in arm
You hope it don't get harmed
But even if it does
You'll just do it all again

(Regina Spektor)

Não, é assim que funciona:
Você procura dentro de você
Você pega as coisas de que gosta
E tenta amar as coisas que pegou
E então você pega todo esse amor que você fez
E crava em alguém
No coração de outro alguém
Bombeando o sangue de outro alguém.
E andando de braços dados
Você espera que ele não se machuque,
Mas mesmo se isso acontecer
Você simplesmente vai fazer tudo de novo.

4 de jul. de 2010

Quem é que disse que essa história é sobre um livro?

Ela tinha certeza que o livro estava naquela gaveta, mas procurou, procurou e nada. Talvez ela o tenha emprestado.
É melhor esperar, alguém vai devolver!
Só que ninguém devolve e ela volta buscá-lo na gaveta, aquela gaveta enorme, cheia de coisas importantes, documentos e até algum dinheiro, para uma necessidade. Mas ele ainda não está lá.
Então é hora de ir atrás, de perguntar para algumas pessoas se elas estão com o livro. Mas cobrar o livro de quem? Como?
Será que eles não podiam devolver pelo menos os últimos capítulos? Eles podiam ficar com o começo, já que ela sabe todas as frases.
Mas não, nenhum capítulo volta a ser dela!
- Ele era mesmo seu? Tem certeza que já o leu, que o viu na sua gaveta? A primeira gaveta da esquerda?!?
Sim! Ela já o viu na gaveta, afinal, foi a partir dali que o sorriso dela mudou.
Das crônicas, era só o que ela falava. Ele era a sua poesia. Sabia do índice como ninguém.
O problema foi que ela demorou para terminar, ela gostava tanto do primeiro capítulo, que lia e relia, e não chegava logo no fim.
Hesitou tanto em saber como era o desfecho, que se ausentou por um tempo, e quando foi buscá-lo na gaveta, não o encontrou mais.
Nas férias tentou substituí-lo por outro. Ele tinha um título parecido, a capa era um pouco mais velha - um romance - daqueles com final previsível, logo desistiu, ela não gosta do previsível.
Estava decidido - desta vez ela não hesitaria, não ia perder o seu livro favorito assim à toa, ela precisava encontrá-lo, ou alguém precisava devolvê-lo.
Enquanto isso não acontecia, ela tentou outros 03 títulos: comédia, drama e um de contos, sem sucesso claro!
Por fim, numa noite vazia andando por aí ela o achou, era uma segunda edição das crônicas, ali num sebo, perdido entre tantos outros na vitrine.
A princípio olhou e rejeitou (mesmo com a teoria que não hesitaria), não queria aquele do sebo, mas ele estava lá, disponível, tão barato, resolveu então que o levaria.
Agora ela iria lê-lo por inteiro, não enrolaria se quer no índice, nada de guardar na gaveta, de reler uma página, dar importância com o fato de tê-lo comprado no sebo, mesmo que faltasse aquele cheirinho de novo e as páginas unidas.
Não importava quem o já tinha lido, ela sabia que não iria tirá-lo da bolsa.
Na volta pra casa ela desligou o celular, não queria que a perturbassem, ligou no trabalho e disse que não voltaria para a reunião, tinha acontecido um imprevisto. Ela nunca deixara de participar de uma reunião por motivos pessoais, afinal o trabalho estava em primeiro lugar, mas naquele dia não! Ela tinha encontrado o que buscava por dois anos.
No caminho de casa parou no semáforo, escutava um blues no som do carro. Os vidros estavam fechados, o inverno da capital apontava 15 graus no relógio de rua.
Mas não importava o frio da rua, o semáforo fechado, o trânsito, ou mesmo qualquer coisa que poderia aparecer. Ela tinha a segunda edição na sua bolsa.
Em um piscar de olhos, enquanto abria e fechava o farol e os carros permaneciam inertes na avenida. Um motoqueiro parou do lado do carro dela, ele não pediu para ela abaixar o vidro, nem pra ela descer, tampouco teve o trabalho de lhe pedir a carteira, num golpe, ele quebrou o vidro traseiro de seu carro e pegou sua bolsa, que lá estava no chão.
Ainda no mesmo piscar de olhos, ele levou a bolsa sumindo no mar de carros. Ela atônita, não sabia o que fazer, não conseguia pensar em outra coisa senão no livro.
Ela esperara tanto para encontrá-lo, e ele que não iria fazer uso do livro, o levou, só porque queria a bolsa, para pegar a carteira, e da carteira o dinheiro.
Não tinha cartões de crédito, o celular era tão velho, que não valia nem o sangue que ficou nos resquícios do vidro que caíra no banco do carro.

Ele levou por querer, por egoísmo, por oportunidade. Roubou o que ela amava.
O que ela tentou o tempo todo amar, só para substituir aquela primeira edição, que foi o mais lindo livro, que ela nunca leu até o fim.

Quando te roubam o amor, o vazio e a brutalidade são semelhantes!



7 de jun. de 2010

o de sempre!



As 17h30 ela sai para pintar os lábios, quando volta fica atenta a porta, olha constantemente quem entra na cafeteria.
Serve algumas mesas, vai até a cozinha, sempre com muita pressa, ela não quer perder nem um minuto da presença dele. Passa pelo caixa, sorri para os clientes, confere as horas, ainda são 17h35.
O dia que começou as 5h00 da manhã só vai terminar no limite da meia noite, mas a hora mais esperada é o fim da tarde.
No dia anterior ele não apareceu, a cafeteria fechou, ela não aguentou de saudades e ligou, ligou para dizer oi, para perguntar se estava tudo bem, para dizer que não o viu, para jogar conversa fora e no fim da ligação dizer:
- Ah, eu liguei só pra saber se você estava bem!
17h40 Os amigos dele chegam à cafeteria, fazem seus pedidos, ela anota tudo prontamente e no fim pergunta:
- E ele? Não vem?
Antes que eles respondam, ela sorri. Ele entra, senta-se à mesa com seus amigos, a cumprimenta. Ela pergunta como ele está, olha para o bloquinho de anotações e diz:
- O de sempre?
Ele sorri e diz sim, antes que ela saia de perto da mesa ele já faz uma pergunta para seu amigo sobre trabalho, sem ser percebida ela se distancia. Vai até a cozinha e entrega os pedidos.
O café dele ela faz pessoalmente com um pouco de leite. Rapidamente leva na mesa, serve a todos e por último o dele. Tenta puxar assunto, pergunta do final de semana, ele responde já de boca cheia, que ficou trabalhando, ela faz um sim com a cabeça, e pergunta:
- Você recebeu minha mensagem?
Ele toma um gole de café, olha nos olhos dela e diz que sim, pede desculpas, diz que não teve tempo para responder:
- Então, como eu te falei, fiquei o final de semana trabalhando!
Ele numa tentativa inútil de justificar a sua não-resposta, o seu silêncio. Ela simula compreensão e pergunta se eles querem mais alguma coisa, com a resposta negativa, ela sai, e vai para perto do caixa, que é pra fingir coincidências.
Já são quase 18h00, ele e seus amigos levantam e vão conversando em direção do caixa, ela já estava lá esperando.
O moço do caixa também puxa assunto:
- E aí, já vão embora? Vão tomar uma cerveja hoje?
Ele responde que não, que tem algumas coisas pra fazer e ainda precisa ir ao supermercado fazer compras.
Num singelo tchau, entre até amanhã e boa noite, eles vão embora.
O olhar dela é para ele. O sorriso vai congelando, os lábios pintados vão se fechando.
Agora é esperar pelo café de amanhã e se ele não aparecer, ela liga, entre anseios, esperanças, saudades e inseguranças, para viver seu romance, que não passa de um monólogo.
À noite o celular dele toca, é a Bruna, eles vão sair pra jantar, rir até o amanhecer, dormir juntos numa noite inesquecível e por fim acordar atrasados para trabalhar.
E ela? Ah! Ela vai demorar a dormir mesmo cansada, porque ainda está pensando na mensagem que mandou dias atrás, e ele não respondeu.
No dia seguinte ela vai acordar cedo pensando se ele ainda dorme. Nunca vai adivinhar que o nome da noite da passada era Bruna. Que ele vai passar na cafeteria hoje pela manhã, sorrindo, num horário diferente só para pegar um café.
- O que aconteceu? Você nunca vem de manhã?
- Acordei atrasado, passei só para pegar um café!
Ele vai embora numa pressa, mas carrega um sorriso de felicidade.
Ela se surpreende, fica alegre por tê-lo visto já pela manhã, mesmo sem a maquiagem e o ritual de esperá-lo. E passa o dia pensando:
- Será que ele veio me ver?!

3 de jun. de 2010

Das Coisas

das coisas
que eu fiz a metro
todos saberão
quantos quilômetros são
aquelas
em centímetros
sentimentos mínimos
ímpetos infinitos
não?

Paulo Leminski