7 de jun. de 2010

o de sempre!



As 17h30 ela sai para pintar os lábios, quando volta fica atenta a porta, olha constantemente quem entra na cafeteria.
Serve algumas mesas, vai até a cozinha, sempre com muita pressa, ela não quer perder nem um minuto da presença dele. Passa pelo caixa, sorri para os clientes, confere as horas, ainda são 17h35.
O dia que começou as 5h00 da manhã só vai terminar no limite da meia noite, mas a hora mais esperada é o fim da tarde.
No dia anterior ele não apareceu, a cafeteria fechou, ela não aguentou de saudades e ligou, ligou para dizer oi, para perguntar se estava tudo bem, para dizer que não o viu, para jogar conversa fora e no fim da ligação dizer:
- Ah, eu liguei só pra saber se você estava bem!
17h40 Os amigos dele chegam à cafeteria, fazem seus pedidos, ela anota tudo prontamente e no fim pergunta:
- E ele? Não vem?
Antes que eles respondam, ela sorri. Ele entra, senta-se à mesa com seus amigos, a cumprimenta. Ela pergunta como ele está, olha para o bloquinho de anotações e diz:
- O de sempre?
Ele sorri e diz sim, antes que ela saia de perto da mesa ele já faz uma pergunta para seu amigo sobre trabalho, sem ser percebida ela se distancia. Vai até a cozinha e entrega os pedidos.
O café dele ela faz pessoalmente com um pouco de leite. Rapidamente leva na mesa, serve a todos e por último o dele. Tenta puxar assunto, pergunta do final de semana, ele responde já de boca cheia, que ficou trabalhando, ela faz um sim com a cabeça, e pergunta:
- Você recebeu minha mensagem?
Ele toma um gole de café, olha nos olhos dela e diz que sim, pede desculpas, diz que não teve tempo para responder:
- Então, como eu te falei, fiquei o final de semana trabalhando!
Ele numa tentativa inútil de justificar a sua não-resposta, o seu silêncio. Ela simula compreensão e pergunta se eles querem mais alguma coisa, com a resposta negativa, ela sai, e vai para perto do caixa, que é pra fingir coincidências.
Já são quase 18h00, ele e seus amigos levantam e vão conversando em direção do caixa, ela já estava lá esperando.
O moço do caixa também puxa assunto:
- E aí, já vão embora? Vão tomar uma cerveja hoje?
Ele responde que não, que tem algumas coisas pra fazer e ainda precisa ir ao supermercado fazer compras.
Num singelo tchau, entre até amanhã e boa noite, eles vão embora.
O olhar dela é para ele. O sorriso vai congelando, os lábios pintados vão se fechando.
Agora é esperar pelo café de amanhã e se ele não aparecer, ela liga, entre anseios, esperanças, saudades e inseguranças, para viver seu romance, que não passa de um monólogo.
À noite o celular dele toca, é a Bruna, eles vão sair pra jantar, rir até o amanhecer, dormir juntos numa noite inesquecível e por fim acordar atrasados para trabalhar.
E ela? Ah! Ela vai demorar a dormir mesmo cansada, porque ainda está pensando na mensagem que mandou dias atrás, e ele não respondeu.
No dia seguinte ela vai acordar cedo pensando se ele ainda dorme. Nunca vai adivinhar que o nome da noite da passada era Bruna. Que ele vai passar na cafeteria hoje pela manhã, sorrindo, num horário diferente só para pegar um café.
- O que aconteceu? Você nunca vem de manhã?
- Acordei atrasado, passei só para pegar um café!
Ele vai embora numa pressa, mas carrega um sorriso de felicidade.
Ela se surpreende, fica alegre por tê-lo visto já pela manhã, mesmo sem a maquiagem e o ritual de esperá-lo. E passa o dia pensando:
- Será que ele veio me ver?!

Um comentário:

O Inseto Humano disse...

Quem nunca esperou o dia inteiro por alguns segundos, mas essas coisas nunca acabam bem...