19 de abr. de 2011

Quando a música é instrumental [ou pura metáfora]

Não tente ser uma música de alguém. Não escolha uma música pra ser trilha de um flerte, namoro ou um simples passar de uma noite.
Não adianta escolher seu cantor favorito pra dizer que tem tudo a ver com a situação, com o momento, tampouco com a beleza dela.
As pessoas tem uma necessidade de escolher canções que combinem, que citem um lugar, uma estação do ano, que fale sobre ela ou ele. Uma canção que diz tudo o que você não conseguiria criar, ou mesmo dizer em anos de tentativas.
Essa sua escolha solitária e autoritária estraga tudo, ilude, inventa, cria um personagem de videoclipe imaginário. Ele ou ela será sempre o protagonista deste vídeo, que por sinal não sai da sua cabeça. Pois é, só da sua, porque da outra pessoa, essa música não é nada.
Não que homens e mulheres não criem uma trilha sonora para os amores diários, os platônicos, os eternos, os que duram até ele dizer o filme favorito, e completar a frase questionando quem é Quentin Tarantino.
O problema de querer ser (escolher) uma música e declarar isso, é que nem todos tem esse potencial. Pra ser ‘música’ (a arte das musas) o ser humano precisa ter o dom do som e do silêncio, ele precisa ser o ritmo e a melodia. Mas nem todas as pessoas são capazes de entender que não possuem harmonia, mesmo que você grite. Elas acreditam que ainda tocam no seu playlist.
O mais interessante dessa relação: música - relações humanas, é quando você descobre depois de muito tempo, (claro, afinal não é todo dia que nasce um Beethoven) uma pessoa capaz de ser não só uma música, ela é uma trilha sonora inteira. Ela não é um videoclipe imaginário. Ela é um documentário-drama-comédia-animação-ficção, tudo numa coisa só.
Percepção explica tudo. Não se escolhe uma música, ela surge.
Você já escutou de alguém algo como: “vou escolher a nossa música!”. Já apareceu um alguém que te perguntou: “qual o seu cantor favorito? Posso tocar pra você!”.
Esquece. A música em si é um fenômeno natural e universal. Pensando nisso, ‘por ser um fenômeno natural e intuitivo, os seres humanos podem executar e ouvir a música virtualmente em suas mentes sem mesmo aprendê-la ou compreendê-la’.
É por isso que aquele mimimi em francês “Et le bruit du passé se tait tout simplement” [E o barulho do passado simplesmente se cala], idioma do qual você não entende mais do que sete palavras, fazia o maior sentido em algum momento da sua vida.
E é por isso que em um determinado momento você vai descobrir outra coisa, essa pessoa não é só uma trilha sonora, ela é um gênero inteiro, qualquer música que você ouça, que tenha a mesma maneira particular de pronunciar alguns palavras, será ela.
Você pode ler e reler um e-mail, com a mesma capacidade intuitiva de executar e ouvir uma música virtualmente em sua mente. Um e-mail, por exemplo, vira sua partitura, na qual você consegue imaginar exatamente onde essa pessoa parou, fez aquela cara “calma, tô processando a sua pergunta”, entendeu seu questionando e respondeu. Escreveu por 30 segundos, parou, passou a mão no queixo e respondeu o resto.

Você é capaz de ler com o jeito dela/dele de falar? Você consegue fazer essa interpretação ilusória só para te transportar para perto?

Antropologia musical = tende a provar que, mesmo se alguém tem um certo prazer ao ouvir uma determinada obra, não pode vivê-la da mesma forma que os membros das etnias aos quais elas se destinam.

Um comentário:

Russo disse...

Curti Van, super beijo...